26/09/2013

Os Direitos dos Bebés

Jornal Público (21 de Julho de 2013)


Catarina Rodrigues
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Quando é que começamos a ter direitos? Podemos falar de direitos dos bebés? E porque seriam importantes?

Apesar da evolução positiva que se tem vindo a operar em relação ao conceito de bebé, realço a importância desta fase fundadora do desenvolvimento humano… e de como depende de uma série de condições basilares, a que denominarei direitos dos bebés.

De modo a poder explorar melhor este tema, irei refletir convosco ao longo de alguns artigos. Este versa sobre o:

Direito a ter pais emocionalmente disponíveis

Quando nasce, o bebé é um ser humano. Mas só se torna pessoa através da relação com os seus cuidadores, como o demonstram os estudos sobre a interação mais precoce. Depende do estabelecimento de um vínculo amoroso por parte dos cuidadores e da capacidade destes para responder de forma sensível, contingente, adequada e criativa às necessidades/comportamentos do bebé. E do reconhecimento de como esta relação é fundadora do seu “eu”.

A função parental é, pois, exigente, porque começa numa fase que não está assente na linguagem verbal, exigindo capacidade de se colocar no lugar do bebé e de escutar e agir com o coração. Isto é, que se esteja emocionalmente disponível para entender a comunicação emocional do bebé e corresponder-lhe empaticamente.

Em meu entender, tal é facilitado quando os pais conseguem recuperar e ouvir o bebé que vive dentro de si. Ou seja, quando os pais se permitem “ser bebés”, sem perder o seu estatuto de adulto.

Alguns pais têm esta capacidade de forma natural e intuitiva. Outros têm mais dificuldade. Provavelmente eles próprios não puderam ser bebés de forma livre e espontânea. São pais que confundem educar com autoritarismo e domínio e que olham para o bebé centrados na sua perspetiva de adulto, exigindo-lhe uma maturidade que este não possui… Ora, o bebé respeita as normas dos adultos, quando primeiro sente que os adultos o respeitam, mais do que o “educam”/limitam face à sua vontade de agir sobre o mundo.

Quando nos permitimos olhar para o bebé deixando ressoar o bebé que está dentro de nós, percebemos que o brincar e a demonstração de amor, orgulho e de incentivo são a sua linguagem e que é através desta que ele cresce e se desenvolve. Afinal, todos são manifestação da nossa confiança genuína na capacidade daquele em conquistar com competência o mundo que será o seu.

Assim sendo, defendo que deve ser o adulto a adequar-se à imaturidade da comunicação do seu bebé, reconhecendo na brincadeira o modo como ele experimenta, entende e aprende sobre o mundo que o rodeia. Por isso, “fale” com ele através da brincadeira e da exploração, criando alternativas para aquilo que ele não pode fazer. Exige mais tempo e mais criatividade que irritar-se ou limitar a sua ação com um “não” retumbante. Mas o seu bebé aprende consigo alternativas ao que não pode fazer, encarando a vida como algo que pode sempre conquistar. Se não de uma forma, então de outra.

Tomemos o exemplo da birra. Antes de se irritar, exigir ao seu bebé que se comporte “bem” e procurar dominá-lo com gritos, bater-lhe ou deixá-lo sozinho, respire fundo, dê tempo para essa manifestação, procure perceber o que está a ser transmitido e aceite-o como válido e adequado. Os bebés comunicam de forma muito genuína o que necessitam. Sente-se ao pé dele, ouça-o, procure entender e leve a sério a sua vontade. Não se fixe na emoção negativa. Abrace-o e acarinhe-o. Vai ser bom para os dois e diminui a tensão. Todos nós nos acalmamos quando alguém se disponibiliza para nos ouvir e perceber a nossa razão. Com os bebés é igual.

Mas para o ajudar a compreender os motivos da recusa e a descobrir alternativas, tem de usar a linguagem da brincadeira. Explique a razão do seu não e cative a sua atenção para outra coisa. Ele está ávido de aprender mais sobre o mundo que o rodeia. Rapidamente percebe que há mais para explorar e não se importará de deixar o que estava a fazer. Sobretudo, se você for o seu alegre companheiro de exploração!

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